Você já percebeu que mesmo pagando as parcelas do seu financiamento, o saldo devedor parece não diminuir ou até aumentar com o tempo? Essa situação pode indicar a presença de amortização negativa, um fenômeno financeiro que prejudica diretamente o consumidor e pode estar vinculado a práticas abusivas por parte da instituição financeira.
Neste artigo, explicamos o que é a amortização negativa, como identificá-la no extrato do financiamento e quais os direitos do consumidor diante dessa distorção.
O que é amortização negativa?
A amortização é o processo pelo qual o valor total da dívida vai sendo gradualmente reduzido com o pagamento das parcelas. Cada parcela de um financiamento é composta basicamente por:
Amortização: parte que efetivamente reduz o saldo devedor;
Juros: remuneração cobrada pela instituição financeira;
Encargos e seguros (em alguns casos): valores agregados ao contrato.
Na amortização negativa, a parcela paga pelo consumidor não é suficiente sequer para cobrir os juros cobrados no período, fazendo com que:
O valor amortizado seja nulo ou negativo;
Os juros não pagos sejam incorporados ao saldo devedor;
A dívida cresça mesmo com o pagamento em dia das parcelas.
Esse tipo de prática compromete a boa-fé objetiva e o equilíbrio contratual, especialmente quando o consumidor não é informado de forma clara sobre a capitalização embutida ou a ausência de amortização efetiva.
Como identificar amortização negativa no extrato?
Para verificar se você está sendo prejudicado pela amortização negativa, siga o passo a passo:
1. Solicite a planilha de amortização completa
Com base no art. 6º, III, e no art. 43, §2º do Código de Defesa do Consumidor, você pode requerer ao banco:
A planilha de evolução do saldo devedor;
A discriminação de cada parcela (amortização + juros + encargos);
A simulação atualizada de quitação da dívida.
2. Observe a evolução do saldo devedor
Analise mês a mês o saldo devedor. Ele deve diminuir após o pagamento de cada parcela. Se estiver aumentando ou permanecendo estável, é sinal de amortização negativa ou anatocismo.
3. Compare o valor pago com os juros do período
Verifique se o valor da parcela é suficiente para cobrir os juros mensais. Se os juros são maiores que o valor da prestação, significa que nenhuma parte está sendo amortizada e os juros residuais estão sendo adicionados ao saldo devedor.
Exemplo prático de amortização negativa
Imagine um financiamento em que:
Saldo devedor no mês: R$ 20.000,00
Juros mensais: R$ 800,00
Valor da parcela: R$ 700,00
Neste cenário:
R$ 700,00 são usados apenas para pagar parte dos juros (R$ 800,00);
Os R$ 100,00 restantes de juros são capitalizados, ou seja, somados ao saldo devedor;
No mês seguinte, o saldo devedor sobe para R$ 20.100,00, mesmo com pagamento pontual.
Isso representa amortização negativa.
Fundamentos legais para questionar essa prática
A amortização negativa pode ser contestada com base:
No Código de Defesa do Consumidor (CDC):
Art. 6º, III e IV – Direito à informação clara e à proteção contra cláusulas abusivas;
Art. 52, §1º – Obrigação de informar previamente o total de encargos;
No Código Civil:
Art. 421-A – Vedação à onerosidade excessiva e proteção ao contratante hipossuficiente;
Na Resolução nº 4.433/2015 do Banco Central:
Determina o fornecimento de demonstrativos claros e acessíveis sobre contratos financeiros.
Além disso, o STJ possui jurisprudência consolidada no sentido de coibir a capitalização indevida e a cobrança de juros que impeçam a amortização real da dívida.
O que fazer se identificar amortização negativa?
Se for constatada a prática, o consumidor poderá:
Notificar extrajudicialmente a instituição financeira para revisão do contrato;
Solicitar a devolução de valores pagos indevidamente com base no art. 42, parágrafo único, do CDC;
Propor ação revisional bancária, com pedido de:
Revisão das cláusulas de juros;
Apuração da legalidade da capitalização;
Recalculo do saldo devedor com base na tabela SAC ou PRICE sem anatocismo;
Eventual indenização por danos morais, se comprovado o prejuízo ao consumidor.
Dica profissional
A análise de amortização negativa exige conhecimento técnico. Recomenda-se a elaboração de laudo contábil independente para instrução de medidas judiciais e negociação com base sólida.
Conclusão
A amortização negativa é um vício financeiro grave que compromete a regularidade dos contratos bancários, lesando consumidores que, mesmo adimplentes, veem suas dívidas aumentarem injustificadamente.
A identificação e contestação desse abuso é não apenas um direito, mas um instrumento de proteção da dignidade financeira do contratante.
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