Você já ouviu falar em juros sobre juros ou percebeu que sua dívida aumenta rapidamente mesmo com o pagamento em dia? Isso pode ser um sinal de capitalização de juros, uma prática financeira comum em contratos bancários — mas que nem sempre é legal.
Neste artigo, você vai entender o que é capitalização de juros, como ela funciona na prática e como identificar quando está sendo cobrada de forma irregular.
O que é capitalização de juros?
A capitalização de juros ocorre quando os juros calculados sobre o saldo devedor de um contrato são incorporados ao próprio saldo, passando também a gerar novos juros nos períodos seguintes.
Em outras palavras: é a incidência de juros sobre juros.
Existem dois principais regimes de capitalização:
Juros simples: os juros incidem sempre sobre o valor original (sem crescimento exponencial).
Juros compostos (capitalizados): os juros são somados ao saldo devedor a cada período (mensal, anual etc.) e passam a integrar a base de cálculo dos juros seguintes.
Exemplo prático
Imagine um empréstimo de R$ 1.000,00 com 10% de juros ao mês:
Sem capitalização (juros simples):
1º mês: R$ 1.000,00 + R$ 100,00 = R$ 1.100,00
2º mês: R$ 1.000,00 + R$ 100,00 = R$ 1.200,00
3º mês: R$ 1.000,00 + R$ 100,00 = R$ 1.300,00
Com capitalização mensal (juros compostos):
1º mês: R$ 1.000,00 + R$ 100,00 = R$ 1.100,00
2º mês: R$ 1.100,00 + R$ 110,00 = R$ 1.210,00
3º mês: R$ 1.210,00 + R$ 121,00 = R$ 1.331,00
Perceba que com juros compostos, a dívida cresce exponencialmente.
A capitalização é legal?
Depende. A capitalização de juros é permitida apenas quando:
Está prevista expressamente no contrato;
O consumidor teve prévio conhecimento e acesso às cláusulas;
Há previsão legal ou regulamentar específica, como em financiamentos do SFH ou operações regidas por normas do Banco Central.
Quando não há previsão expressa, a capitalização é considerada ilegal e abusiva, podendo ser declarada nula judicialmente.
Base legal
Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90):
Art. 6º, III – Direito à informação adequada e clara;
Art. 51, IV – Nulidade de cláusulas que imponham obrigações excessivamente onerosas.
Código Civil (Lei nº 10.406/2002):
Art. 591 – A remuneração do mútuo será convencionada pelas partes;
Art. 406 – Juros legais quando não convencionados;
Art. 884 – Vedação ao enriquecimento sem causa.
Súmula 121 do STF:
“É vedada a capitalização de juros, ainda que expressamente convencionada.”Súmula 539 do STJ:
“É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior à anual desde que expressamente pactuada.”Súmula 541 do STJ:
“A capitalização mensal de juros é válida nos contratos celebrados a partir de 31.03.2000, desde que expressamente pactuada.”
Como identificar a capitalização no seu contrato ou extrato?
1. Leia as cláusulas financeiras com atenção
Procure termos como:
“juros compostos”
“capitalização mensal”
“taxa efetiva anual (TEA)” superior à taxa nominal anual
“equivalência de taxas”
Caso o contrato mencione apenas juros mensais, sem detalhar a TEA ou a base de cálculo, é possível que haja capitalização disfarçada.
2. Compare a taxa nominal e a taxa efetiva
Se a Taxa Efetiva Anual (TEA) for maior que 12 vezes a taxa mensal, há indícios de capitalização mensal.
Exemplo:
Taxa mensal: 3%
Taxa anual (sem capitalização): 3% × 12 = 36%
Taxa anual informada no contrato: 42,58% → Há capitalização de juros.
3. Solicite a planilha de amortização
Com base no art. 43, §2º do CDC e na Resolução nº 4.433/2015 do Banco Central, exija:
Discriminação de cada parcela: principal + juros;
Evolução do saldo devedor;
Identificação de acréscimos decorrentes de juros compostos.
O que fazer se identificar capitalização indevida?
Guarde cópia do contrato e extratos detalhados;
Notifique extrajudicialmente a instituição financeira, requerendo a revisão dos juros;
Procure assessoria jurídica especializada;
Proponha ação revisional, com pedido de:
Declaração de nulidade da cláusula de capitalização;
Recalculo do saldo devedor com base em juros simples;
Devolução em dobro do valor cobrado a maior (CDC, art. 42, parágrafo único);
Eventual indenização por danos materiais e morais.
Conclusão
A capitalização de juros pode comprometer o equilíbrio financeiro do consumidor e transformar dívidas controláveis em verdadeiras armadilhas bancárias.
Estar atento aos contratos, exigir transparência e contestar práticas ilegais são atitudes essenciais para preservar seus direitos.
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